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O Belo, o Perfeito e a Utopia ~




[ "(...)Eu que não me sento


No trono de um apartamento


Com a boca escancarada cheia de dentes


Esperando a morte chegar" ]


Tantos rótulos, tantos padrões... parece ser cada vez mais raro encontrar alguém dito 'original' e, olhando um pouco mais de perto, veremos que até este possui algo que incorporou do que lhe foi 'oferecido' previamente pelo tal Sistema em que vivemos. Sempre teremos características do meio que nos rodeia, a questão é: até que ponto nos propomos a ser o que vemos, o que supostamente devemos ser? Parece ser algo tão subliminar, tão intrínseco, mas não, não é.


Os tempos mudaram, como tantos dizem. O 'hoje' nunca é igual ao 'ontem' e nem será igual ao 'amanhã'.


Ao olhar para as crianças do mundo moderno, contemporâneo de hoje, me assusto um pouco. Crianças de 6,7 anos dançando funk, ouvindo musiquinhas sem sentido e sem profundidade fabricadas por uma mídia que não se importa com a qualidade, mas com a quantidade. Cada vez mais vemos 'bandinhas descoladas', garotas frenéticas por meninos idealizados e claramente fabricados. Não estou aqui para dar uma de 'rebelde sem causa' ou viver nostalgicamente sem ver o que de bom há no meu 'agora'. É só que é realmente estranho. Concordo que os tempos são outros, mas.. as pessoas também devem ser outras?


O mais triste de tudo é olhar para muitas crianças e não ver mais a inocência de tempos atrás em seus olhos. Cada um gosta do que melhor lhe apetece, mas até que ponto essa 'liberdade de escolha' nos é de fato concedida? E quanto às mulheres de hoje? Olho, procuro, mas não vejo mais a discrição, o charme que tantos poetas idolatravam ao falarem de suas 'musas inspiradoras'. A pressão para ser 'perfeita', para não ter nenhuma falha parece ser cada vez maior. Mas qual é o problema de se ter falhas, defeitos? Já dizia Fernando Pessoa:

Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito.

Se parássemos de idealizar o 'perfeito' e víssemos que nada é perfeito, com certeza, relacionamentos seriam mais duradouros, pessoas seriam mais satisfeitas e a felicidade seria uma consequência e não uma causa.

Muitos continuam frisando que não há como mudar, como fazer algo de diferente, algo que faça sentido e que mostre que uma visão diferente pode sim surtir algum efeito positivo. Acho que, se tirassem de mim esse sentimento de 'seja a mudança que você quer ver no mundo', minha existência perderia o suposto sentido que tem. Não querendo falar através de hipérboles, é só que viver sem acreditar que o mundo pode, sim, ser diferente, melhor (não perfeito!) é realmente algo triste, frio e vazio. Ao que me parece, apenas olhar para a situação atual e não se sensibilizar com a deturpação dos valores, com o egoísmo, o comodismo e a indiferença cada vez mais arraigados às nossas vidas definitivamente mostra-nos que não merecemos ter a oportunidade de ser e de viver.

Quanto a mim, que sou mulher, acredito que o belo não é o perfeito, mas sim as curvinhas, celulites, rugas e 'falhas' que só fazem de nós o que somos: verdadeiras e autênticas. Para ser forte, feliz e lutar pelo que se quer não é necessário plásticas, implantes e paliativos que escondem as 'imperfeições' e as 'marcas da idade'. O que faz de nós pessoas não é a idealização do perfeito, mas sim viver aceitando a nossa condição de humanos, imperfeitos, mas vivos e em constante mudança. ~

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1 comentários:

Raquel Fagundes disse...

eu que não me sento mesmo.

amei

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